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segunda-feira, 23 de maio de 2011

A cigana

                                                         A cigana

Cigano-Segundo o Dicionário Aurélio: Indivíduo de um povo nômade, provavelmente originário da Índia e emigrado em grande parte para a Europa Central, de onde se disseminou, povo esse que tem um código ético próprio e se dedica à música vive de artesanato, de ler a sorte, barganhar cavalos.Assis_Machado._A_Cartomante[1].pdf
       Era sábado, e a charmosa Maria Tereza explicava ao Beto o que lhe acontecera pela manhã enquanto realizava a sua caminhada diária pela avenida. -Uma cigana leu minha sorte. Ela insistiu .  Antes de mostra minha mão, foi logo dizendo que estava apaixonada por alguém. Mas que estava balançada porque não tinha absoluta certeza de ser correspondida. 
          Eduardo achou engraçado. - Não acredito em adivinhações.  – Gosto realmente de você e nada impedirá que nos encontremos sempre.  Abraço-a e beijou-a. Amo você e não te esquecerei jamais. Mas acreditar em cigana, aí já demais. Se precisar de uma cigana sempre estarei aqui. Não precisa ficar se expondo dessa maneira...  Temos de ser discretos. E se o Beto ficar sabendo?
        Qualquer um que visse Maria Tereza, Beto e Eduardo entrarem no prédio, da Avenida sete de Setembro, Edifício Las Vegas, não estranharia. Os três moravam lá.  Beto e Maria Tereza no apartamento 501 e Eduardo 502.
Beto e Eduardo eram amigos de longa data. Faziam trilha, churrasco, se encontravam para uma cervejinha. Eram colegas de aula. Eduardo fez vestibular para Direito e mudou-se para Porto Alegre. Beto não era chegado aos estudos. Decidiu entrar para o Clube do “Nadismo”. Dormia, jogava Playstation, navegava na net, andava de moto, mas trabalho que é bom, nada.Maria Tereza era cheia de vida e de sonhos. Trabalhava de dia e estudava à noite. Cursava Direito.
Eduardo morou muitos anos fora de Sarandi. Casou descasou e resolveu voltar para a sua terra natal acompanhado de sua mãe.
-Meu amigo vai voltar para Sarandi. Acabei de ler seu e-mail.
-Maria!!, Era assim que Beto a chamava vou indicar o apartamento ao lado para o Edu morar, tudo bem?
-Sim, sim. Ela atarefadíssima. Roupa na máquina. Google pesquisando etc..-  Não o conheço, mas por mim tudo bem...
-Tudo bem, cara. Me liga quando chegar.
Mensagem lida: Chegarei amanhã, ônibus das 17h. Edu
Beto e Maria Tereza foram receber o amigo que chegava a cidade, após longos anos de ausência.
Eduardo percebeu logo o porquê da felicidade do amigo. Maria Tereza era realmente muito bonita, lábios carnudos, pele cor de cuia, sensual e culta.
-Que bom conhecê-lo!
-Beto, sempre fala com carinho da amizade de vocês.
Eduardo e sua mãe satisfeitos com a recepção calorosa que tiveram. Rodoviária, jantar e ainda vizinhar.  Amigos perfeitos, pensou, Edu.
Mas perfeito mesmo achou Maria Tereza: lindaaaaa, simpática. Encantadora. Aparentemente mais nova que Beto. Ela parecia ter 26 e ele uns 28 anos.
Edu e Beto eram muito próximos. Se divertiam com  motos,corridas de Fórmula 1, Pub e jantares às escondidas, de Maria Tereza. Ela era quem mantinha a casa com seu trabalho de secretária em uma Clínica Médica. Chegava em casa exausta. Acordava às 6 horas. Dormia muito tarde. Parecia não se incomodar com as saídas de Beto. Ou fazia que não se importava. Isso não fica claro. Edu estranhava o comportamento do amigo. Ele tinha maior facilidade em “ficar” com outra mulher. Ou até duas, na mesma noite.
A morte vem sorrateira. A mãe de Eduardo morre de AVC ( Acidente Vascular Cerebral ).Beto e Maria Tereza foram incansáveis. Ele ajudou a providenciar os atos de encomendação do corpo, avisar parentes e amigos; ela foi a enfermeira da alma, do coração apaixonado de Eduardo. Ela mandava mensagens de otimismo e fé para Edu.Os três conviviam diariamente.Edu estava muito apegado aos “amigos”, mas principalmente a Maria Tereza. Ele estava envolvido, loucamente apaixonado. Não passava um dia  na vida de Edu, sem que fosse  visitar  os vizinhos do 501.Algumas vezes Beto acordava e dava de cara com Edu, já no seu apartamento.Sempre bem recebido, é claro.  Acima de qualquer suspeita estavam os laços de amizade. Tudo corria normal.
Estranhamento e dúvidas marcaram o aniversário de Edu. Mensagem de texto enviada, convidando-os para o seu aniversário. Churrasco e cerveja na Associação dos Advogados com a turma toda para comemorar meus 30 anos. Confirmar presença.  Edu recebeu somente uma mensagem enviada por Maria Tereza: Parabéns.
Passado alguns dias, Edu estremecia quando tocava seu celular. Começou a receber algumas mensagens anônimas as quais insinuavam o possível caso de amor. Logo veio a cabeça de Edu, aquela cigana ... Mas descartou a possibilidade. As mensagens continuavam. Agora mais frequentes e intensas. No celular e no computador. Achou melhor se afastar um pouco da casa dos amigos. - “Preciso dar um tempo”.
Maria Tereza entrou em pânico. Edu não a visitava mais, não atendia as suas ligações, simplesmente sumiu. E foi aí que a cigana entra novamente para a história. Maria Tereza foi procurá-la.  Sorte ou azar, os ciganos ainda permaneciam na cidade, por conta de um casamento cigano. Segundo a tradição a festa pode durar até um mês. Ao se encontrar  com a, velha cigana esta foi logo dizendo em  portunhol:- puedes ficar tranquila. Maria Tereza resolve então procurar novamente por Edu. Mas dessa vez arrisca tudo: vai em seu apartamento. Conta para Eduardo que foi conversar com a cigana. Este não aprovou a ideia. Combinam que Edu deve voltar a frequentar a sua casa. Eduardo deveria procurar por seu amigo. Objetivo: que Beto não desconfie. Tudo isso não minimizou o medo de Edu, que tudo venha à tona. Os encontros dão-se no apartamento de Eduardo.
Havia meses que os três não se encontravam. Edu parou de receber torpedos. Começou a receber cartas anônimas  a-pai-xo-na-dis-sí-mas. Ficou grilado. Quem estaria escrevendo? Seria Maria  Tereza? Claro que não. O medo e pavor tomou conta de Eduardo. Resolveu meter a cara no trabalho.
Manhã de sábado. Maria Tereza caminhava como de costume.Chega  em casa.Encontra Beto realizando uma tarefa inusitada:  fatiando legumes. Beto tinha uma expressão  de desconfiança. Algo diferente havia no ar naquele momento. Ela pressentiu. Um frio estranho percorreu seu corpo. Conhecia seu companheiro.Mesmo assim tentou quebrar  o clima pesado que pairava no ar do apartamento 501. Nesse momento se passou um filme em 3D, pela cabeça de Maria Tereza. Sentia alegria, tristeza, pena e felicidade, arrependimento ao mesmo tempo. Respirou fundo e perguntou:
-Que temos para o almoço? Sem responder, Beto ataca-a com a faca que cortava legumes.
11 horas. Eduardo recebe a seguinte mensagem: Venha almoçar hoje em nosso AP.  Beto e MT
Eduardo não esconde seu nervosismo diante desse convite. Pensou em ir, em não ir, achou estranho, confuso. Caminhou em direção ao edifício Las Vegas. Esperou o elevador. Resolveu subir de escada. Desistiu. Voltou a caminhar pela rua. Sem rumo, sem direção. Lembrou da cigana. Foi a sua procura até uma vila nas proximidades da cidade. A cigana convidou-o para sentar e pediu-lhes que mostrasse a sua mão.
  A velha cigana, acalmou-o dizendo que nada iria separá-los. Maria Tereza estava bem e que o convidaria para um encontro , talvez hoje, em sua casa. Como sabemos, cigana que é cigana cobra por seus serviços. E cobrou e muito. R$ 180,00. Edu pagou com gosto e satisfação. Era tudo o que ele queria ouvir. Pode ir ao encontro deles.  Sairá tudo bem. Eduardo passou do estado de medo e desespero, para um estado de calma e tranqüilidade. O relógio já marcava 12 horas. Resolveu se apressar. Tomou um táxi. Chegou a  Av. sete de setembro, entrou rapidamente no Las Vegas. Chamou o elevador. Tocou a campainha do 501. Beto abre a porta.
- Oi, cara desculpe chegar em cima da hora. Me atrasei. Caminha até a cozinha, como de costume, e vê Maria Tereza. Caída ao chão. A faca ainda gravada no seu peito. Cena para nunca mais esquecer da sua memória. Beto arranca a faca do corpo de Maria Tereza e crava-a nas costas de Eduardo.







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